terça-feira, 5 de janeiro de 2010

sorte

"R saía da festa, atendendo a um chamado de trabalho. Já passava de duas da manhã e a ligação inoportuna requeria certa urgência. Sem pestanejar, pagou a conta, puxou L pelo braço e saiu. Ao entrar no carro, L não parecia muito feliz com a saída repentina. R desconversou, pediu compreensão, acendeu um cigarro, deu a partida e saiu devagar. Ao virar a esquina, da penumbra, surgiu um oficial de não-se-sabe-onde e indicou o acostamento.

A surpresa só permitiu a R, que bebia há mais de seis horas ininterruptas, exclamar: "Perdi!"

Com o carro parado, apagando disfarçadamente seu Marlboro Lights na lateral de seu tênis verde, R abaixou o vidro e calmamente soltou um desarmador "Boa noite!", acompanhado de um nervoso, porém bem disfarçado, sorriso. O diálogo decorreu com uma inesperada fluidez:

- Boa noite! Documentos do veículo e carteira de habilitação, por favor - pediu o policial.
- Pois não - respondeu R enquanto libertava-se do cinto e buscava os documentos no porta-luvas superior - Aqui está!
- O senhor ingeriu alguma substância alcoólica hoje, senhor... R?
- De forma alguma. - respondeu, coçando a testa para disfarçar o suor recente.
- E o senhor tem algo contra fazer o teste do bafômetro? - indagou o guarda.
- Não senhor, pode trazer. - disparou prontamente, transpirando um falso fleumatismo.
- Me aguarde por um minuto.

Enquanto esse "minuto" parecia durar horas, L perguntou, temerosa:

- O que você tem na cabeça? Vai fazer esse bafômetro e vai perder com certeza.

Respirando por instantes de sinceridade, R disse:

- E cê queria que eu dissesse que não ia fazer? Se tivesse dito isso, a essa hora, já tava tomando uns sopapo, algemado. Calma aí - pediu - que ele tá voltando.

- O senhor tem certeza que não bebeu nada hoje?
- Sim senhor, policial. Só vim buscar a menina. - mentiu, tremendo por dentro mas transpirando uma confiança da qual nunca tinha feito uso.
- Hmm... - ponderou o oficial - Ok, o senhor pode ir. Obrigado e boa noite.
- Boa noite, senhor! - disse, quase como um suspiro. - Bom trabalho!

Enquanto ligava o carro e afivelava o cinto, prometeu:
- Amor, não bebo quando for dirigir enquanto não mudar pra cá...

E seguiu embriagado, em direção ao trabalho para tentar ludibriar mais alguns."

4 comentários:

Daniel Bastos disse...

Palmas.

... disse...

hahahahahaha...

Natália Albertini disse...

Tava fuçando no blogger, procurando coisas novas pra ler, e achei teu blog.
O texto me divertiu.
E parece ter outros bons. Talvez dê uma lida, se não se incomodar, claro...

E se tiver vontade, tempo e paciência em algum momento, sinta-se à vontade para ler minhas insanidades. (:

C ya.

Anônimo disse...

isa eu adoro suas musicas e vc e o alex formam um belo casal