quarta-feira, 7 de março de 2007

let's go

"Acordou com aquele gosto azedo na boca. Nem quis experimentar o cheiro do próprio hálito, por pura precaução. Mais uma manhã igual. Aliás, ao olhar para a rua e perceber o sol alto, notou que a manhã já havia passado. Pela posição do sol, imaginou ser pouco mais de meio-dia. O desjejum-almoço seria um bom copo de café puro, requentado no microondas. Mais um dia igual.

O pó de café era pouco, mas assim foi. A água suja deixava um leve gosto dos grãos marrons e se misturava ao bafo matinal. Cada dor sentida na língua e na garganta, provocada por goles ferventes, despertava uma parte do corpo. Deveria entregar a matéria em duas horas e nem havia aberto o editor de textos. O computador permanecera ligado durante toda a noite e a lista de downloads estava recheada de pornografia nacional.

Durante cerca de nove minutos, só o que fazia era piscar avidamente e bocejar. O café fez efeito. Agora desperto, começou a digitar. O texto se encorpava rapidamente, com a facilidade dos que escrevem histórias de ficção. Todos os fatos pareciam se coordenar em sua cabeça e a tecitura de dava de maneira harmoniosa. Cada passagem entrava na fila que trazia estímulos aos dedos ávidos. Já imaginava a série de elogios ocultos e diretos que receberia. Mais café.

Sentiu uma pontada no lóbulo frontal. Talvez fosse só impressão. Imaginou - erroneamente - que era a necessidade do primeiro cigarro do ciclo, já que não conseguia organizar sua vida em dias. Sim, ciclos. "Estou acordado. Durmo. Fim de um ciclo. Acordo. Começo de um novo." E assim clicava freneticamente nas teclas leves do seu macbook. Não ganhava muito dinheiro com esse trabalho bem feito, afinal, como poderia ser um escritor atormentado sem ser explorado pelo seu editor vigarista? O macbook era um presente de uma antiga namorada, com a qual não chegou a ir pra cama por simples nojo. Respirou. Parou de refletir por um segundo, claro: sem parar de digitar.

Pigarreou e cuspiu na mesa. Quase acertou a mosca pousada à beira do prato sujo que jazia ao lado do copo de café. Lembrou que não comia há quase 14 horas. Levantou e foi à cozinha. Rapidamente, retornou com um macarrão instantâneo cru. Mastigava levemente, apreciando o quebrar dos fios ainda duros. Digitava.

Estava pronto. Seu texto acabaria por provocar a desgraça de alguém. "Mas cada um é responsável por seu próprio destino", acreditava. Respirou e mandou o e-mail. Pensou em voltar a dormir, mas o telefone tocou. Acendeu outro cigarro, antes de atender. A voz feminina do lado lhe trazia uma vaga lembrança de outros tempos. Desligou sem responder nada. Uma vertigem lhe acometeu e deixou de lado o copo de café. Resolveu que precisava de ar. Saiu à rua."


Há dias em que a gente nem sabe o porquê de digitar tanto. A história não faz muito sentido, mas sai. Hoje me parece ser um dia bom, apesar do sono. Em um dia feliz, notei que gosto de criar uma desgraça fictícia para balancear a euforia. Não sou bipolar. Talvez emo. Mas me divirto em escrever coisas sem sentido nenhum, às vezes. Deve ser influência de The Cure.

"Let me take your hand
I'm shaking like milk
Turning, turning blue
All over the windows and the floors
Fires outside in the sky
Look as perfect as cats
The two of us
Together again
But it's just the same
A stupid game

But I don't care if you don't
And I don't feel if you don't
And I don't want it if you don't
And i won't say it
If you won't say it first"

2 comentários:

Anônimo disse...

Magron,
tinha esquecido o quanto vc e bom pra escrever...

Ainda acho q vc ta desperdicando esse talento... vamo fazer a correria e mostrar isso pro mundo porra!!!

abraxx

Anônimo disse...

Ow qdo sai o próximo?
Putz! como o Ricco disse "acho q vc ta desperdicando esse talento... "

Bjus